26/10/2012

Análise do poema "Isto", de Fernando Pessoa



                        Isto
          Dizem que finjo ou minto
          Tudo o que escrevo.  Não.
          Eu simplesmente sinto
          Com a imaginação.
          Não uso o coração.

          Tudo o que sonho ou passo,
          O que me falha ou finda,
          É como que um terraço
          Sobre outra coisa ainda.
          Essa coisa é que é linda. 

          Por isso escrevo em meio
          Do que não está ao pé,
          Livre do meu enleio,
          Sério do que não é. 

          Sentir?  Sinta quem lê!
                                    Fernando Pessoa

1 - O eu é acusado de ser um poeta fingidor (ou mentiroso).
     1.1- Explicite o sentido da sua defesa (vs. 3 a 5).

O facto de Pessoa ressentir que digam que ele finge, tem a ver com o seu processo criativo e pelo facto de ele ter sempre sido considerado - mesmo em vida - como um poeta eminentemente racional. Diziam os seus contemporâneos que nada nele seria espontâneo, mas sempre pensado. Ele, "defendendo-se" diz que "sente com a imaginação", ou seja, usa a imaginação como barreira defensiva entre ele e a crueldade (e crueza)  do mundo real. 
Todo os passos da poesia Pessoana - há que compreendê-lo - são terraços (como ele diz), são passos intermédios entre uma coisa e o seu significado. Pessoa quer acima de tudo a verdade das coisas, mas para a alcançar, e sabendo como é difícil, ele desenha degraus, pouco a pouco, para a atingir. Deste modo se pode perceber um pouco o porquê do afastamento das coisas, e sobretudo do fingimento. 

Fingir é também possibilitar "sentir as coisas de todas as maneiras", como dizia o heterónimo Campos. Só se pode sentir tudo de todas as maneiras, se não se sentir nada de maneira nenhuma - ou seja, se não estivermos presos pelo sentir as coisas, é possível descobrir (talvez) a verdade por detrás delas.

Isto é sobretudo um processo filosófico (gnosiológico), ligado ao conhecimento humano através da linguagem. Mas de maneira simples, diremos que Pessoa nem tem de se defender de fingir, pois fingir não é para ele uma fraqueza, mas antes um método de conhecer (e alcançar) a verdade das coisas, não se envolvendo demasiado nelas. Afastando-se, Pessoa observa, e apenas afastado consegue ver mais claramente tudo o que o rodeia. Ele deixa o "sentir" para os outros, para "quem lê".

13/10/2012

Análise do poema "Autopsicografia", de Fernando Pessoa



Para completar o PowerPoint sobre o poema "Autopsicografia", de Fernando Pessoa, aqui fica uma breve análise ao texto:

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor 
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda 
Que se chama coração

O poema "Autopsicografia", escrito em 1930 e publicado em 1932, é porventura um dos poemas mais conhecidos de Fernando Pessoa.
Autopsicografia pode ser traduzido como "escrita da própria alma". De certa maneira é Pessoa aqui o espírito que transmite a mensagem ao Fernando Pessoa que escreve.
Porquê este título? Porque nos parece que Pessoa quer descobrir para si mesmo o mistério da sua poesia e sobretudo da arte de ser poeta. Quem é o poeta, e porque será que o poeta escreve? A resposta, enrolada num mistério, apenas poderá ser desvendada através de um método igualmente misterioso.

Analisemos então o poema estrofe a estrofe:
O poeta é um fingidor/Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente
É certo que este poema desvenda de certo modo a "teoria poética" Pessoana, mas não nos iludamos com a presença de certezas. Pessoa define o poeta como um "fingidor", mas fala apenas de si mesmo. Novamente reforçamos a importância da análise do título: é Pessoa a falar de si a si mesmo. Um poeta pode não ser um fingidor, mas ele, enquanto poeta, é revelado enquanto um fingidor. 
Uma ponta dessa revelação é que o fingimento serve para mascarar a dor. A dor que Pessoa sente é real. Mas através da poesia, a dor que ele sente, finge-a, ao ponto de a dor real parecer fingida. Mas ela é real? No início, sim, mas depois do filtro da poesia, já nada é real, mas sim emocionado ou raciocinado.

E os que leem o que escreve,/Na dor lida sentem bem,/Não as duas que ele teve,/Mas só a que eles não têm.
Se o poeta já não consegue distinguir o que sente, resta essa missão a quem o lê, a quem lê a intelectualização que ele produz.
Mas engane-se quem pensa poder identificar-se com a dor que o poeta sente. Pessoa diz, e muito bem, que quem lê sente apenas a ausência da dor em si mesmo e não a dor presente no poeta. O poeta tem as "duas dores", a real e a fingida, mas quem lê não tem nenhuma das duas - apenas a ausência de dor em si mesmos.
A sublimação da dor em poesia não pode ser sentida por quem lê. Isto é compreensível, visto que é quem escreve que sente intimamente a dor que o leva a escrever. É essa ausência a única coisa a ser verdadeiramente sentida por que lê. Quanto muito quem lê tenta ver a origem da dor de quem escreve - mas à distância.

E assim nas calhas de roda/Gira, a entreter a razão,/Esse comboio de corda/Que se chama coração
Esta perda de sentido da dor - que ilude quem a sente, sobretudo se é um poeta, leva a Pessoa chamar pelo seu coração. O coração aqui é claramente equiparado tanto à dor como à emoção: é o coração que sente, é o coração que "entretém a razão". Será um desabafo solene de Pessoa, visto que a sua dor é emocional e não acha uma resolução racional definitiva para a mesma? É possível, mas apetece-nos no final desta análise dizer: decida quem lê.

NOTA:
- para imprimires este texto que acabaste de ler,  carrega aqui.
- para completares o teu estudo com uma análise aos aspetos sintáticos e semânticos deste poema, imprime e lê com muita atenção este documento.

BOM ESTUDO!

Fernando Pessoa - análise do poema "Autopsicografia"



Análise ao poema "Autopsicografia", de Fernando Pessoa. Não te esqueças que deves completar esta análise com o que foi dito na aula sobre este texto. Bom estudo!


O Modernismo em Portugal



Vídeo-aula sobre o Modernismo em Portugal:

Fernando Pessoa - Vida e Obra (Documentário RTP, série Grandes Portugueses)



Um documentário sobre a vida e obra de Fernando Pessoa, exibido na RTP, na série "Grandes Portugueses". Espero que, deste modo, fiques a conhecer um pouco melhor aquele que é considerado o maior poeta português de todos os tempos!



Nota - Ainda sobre a vida e obra de Fernando Pessoa, podes ver este programa, do professor Hermano Saraiva, e este documentário, exibido na TV Globo, no Brasil.



O Modernismo na Pintura (ppt)



Sobre a arte no início do séc.XX, deixo-vos aqui este powerpoint, sobre o Modernismo na pintura. Bom estudo!

07/10/2012

Tendências estéticas e literárias do início do séc XX (ppt)



Ainda a propósito do Modernismo e das suas características, vejam com atenção este powerpoint, com as tendências estéticas e literárias do início do séc.XX:

03/10/2012

O Modernismo em Portugal



Já aqui coloquei um texto sobre o Modernismo e as suas características principais. No entanto, para completar o que nele se diz sobre este assunto, aqui fica um outro texto:

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